quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Abortar ou não Abortar, Eis a questão!


Talvez o título induza ao humor ácido, mas o papo é sério.

Aborto é assunto muito delicado e complexo. A vida é o bem mais precioso do ser humano e deve ser preservada. No entanto, o aborto em alguns casos específicos, como estupro, risco de morte da gestante e a constatação de fetos acéfalos, faz-se necessário. É um ato insano e uma imprudência absurda levar uma gravidez adiante por falso moralismo.

As discussões sobre esse tema voltaram a ocupar espaço na mídia em 2010, principalmente no período das eleições. Os candidatos a presidência mostraram seus pontos de vista e o modo como pretendem ministrar as questões referentes ao tema. No entanto a candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, se comportou de maneira reprovável ao expor seus argumentos a favor da legalização, e pouco tempo depois mudar de opinião.

Os petistas, quando flagrados numa ilegalidade, como foi o escândalo da Casa Civil, ou numa posição considerada incômoda, como é o caso da descriminalização do aborto, tem sempre a mesma e conhecida resposta: “É mentira. São boatos!”. Dilma, como se sabe, era favorável à descriminalização do aborto, enquanto ministra. Mas até perceber que sua tese não era prestigiada entre os brasileiros, ela já era a pré-candidata de Lula à Presidência. Então, apressou-se em trocar o viés do seu discurso, embora, a legalização seja uma resolução aprovada pelo congresso do PT, que todo militante, inclusive Dilma é uma militante, tem a obrigação de defender. Mas ela não o fez. Por quê? Para ter chances de ganhar as eleições, porque aí vale tudo, não é mesmo?

Bom, depois do segundo turno concluído e a vitória de Dilma garantida, resta-nos, agora, aguardar para saber o desfecho dessas contradições. Mas uma coisa é certa, o país ainda vai passar por vários outros debates, até que se chegue a um consenso sobre a descriminalização do aborto, que contemplará, inevitavelmente, aspectos religiosos e de foro íntimo.

Afinal, essa é uma das características da nossa democracia: liberdade de expressão. Agora, se essa democracia vai conseguir colocar um ponto final nessa discussão que se arrasta há vários anos, já é outra história.

Por Eric Dayson

A ciência não é Deus

Trecho do debate entre o filósofo e teólogo Dr. William Lane Craig, e o químico Dr. Peter Atkins. Para assistir todo o debate clique aqui.

A revista Superinteressante, sempre muito crítica da Bíblia e defensora do liberalismo teológico, em sua edição de novembro/2008 não pode negar o fato de que “ser cientista também é uma profissão de fé”. No artigo intitulado “Ciência, uma questão de fé?” a Super mostrou que várias teorias científicas além da Teoria da relatividade geral de Einstein, como a hipótese do multiverso, a teoria das supercordas, a mecânica quântica e a teoria da inflação cósmica não podem ser plenamente comprovadas cientificamente e possuem suposições e especulações.

No século XIX dava-se à ciência o caráter de onipotência, todavia sua prerrogativa de resolver os males do mundo não se confirmou. Assim, de lá pra cá o ceticismo vem implodindo e o misticismo crescendo como uma muleta para os problemas que a ciência não pode resolver. Todavia, as crenças precisam ser pensadas e refletidas diante de evidências e experiências, e, acima de tudo, serem confrontadas em relação à verdade. Tachar de forma preconceituosa a religião como sendo apenas do campo da fé, enquanto a ciência faz parte apenas do campo dos fatos e evidências, não é positivo.

Durante a primeira metade do século XX todas as ciências eram predominantemente naturalistas, mas graças ao trabalho de filósofos como Alvin Plantinga isso não é mais uma realidade no campo da filosofia, como o filósofo ateu Quentin Smith acabou admitindo “hoje, talvez, 1/4 ou 1/3 terço dos professores de filosofia são teístas”. No campo da filosofia a ciência não possui a exaltação que possuía até os anos 50. Dallas Willard, professor de filosofia da universidade da Carolina do Sul, colocou a ciência no seu devido lugar: “A ciência não faz declarações. Os cientistas, sim. E, às vezes, erram”.

O fato de a ciência não ser onipotente não nos dá o direito de ignorá-la e desprezá-la. Se você ficar doente, você procurará um médico e tratará a enfermidade, os avanços da ciência são altamente positivos e importantes, mas não são suficientes para responder a todas as nossas perguntas. E, para estas, talvez possamos passar a pensar na possibilidade de acreditar em Deus.

Democracia despolitizada

Ensinam-nos, desde pequenos que, libertado do tacão dos militares, o Brasil tornou-se um país democrático e que o voto é nosso direito constitucional. Mas na prática, não é exatamente assim. Em uma república federativa presidencialista, cuja maioria da população não dispõe de consciência política alguma e os poucos que a possuem não a têm bem estruturada, o voto sobrepuja o direito para instituir-se como um dever que, se descumprido, implica em restrições, tais como o impedimento de participar de concursos públicos.

Entretanto, mesmo que a politização do Brasil atingisse índices razoáveis, o voto ainda sim deveria permanecer obrigatório. Sim, porque com o nível dos candidatos a cargos políticos, só por força de lei para fazer valer a “democracia”. É só observar o perfil dos políticos que são escolhidos como representantes.

Francisco Everardo Oliveira Silva, popularmente conhecido como Tiririca, foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo com mais de 1 milhão de votos. Ele foi o candidato mais bem votado e, por quociente eleitoral, elegeu para bancada ao menos mais três candidatos, que a princípio não tinham qualquer possibilidade de se eleger.

Em tese, não há nada de errado em um humorista candidatar-se a um cargo político, principalmente se levarmos em conta a desmoralização que é a política brasileira. O grande problema é que este comediante, que há mais de dez anos conquistou palcos de programas de auditório com “Florentina de Jesus” é, ao que tudo indica, analfabeto. Ou, segundo a definição da Unesco, analfabeto funcional, o que significa que, mesmo que saiba ler e escrever palavras simples, é incapaz de utilizar essas habilidades como ferramentas para lidar com as demandas do dia-a-dia.

Não bastasse o absurdo desta situação, esse que quer se eleger representante popular na Câmara Federal apresentou à Justiça Eleitoral uma falsa declaração de escolaridade. Além de intelectualmente incapaz de assumir qualquer responsabilidade do cargo de um deputado, o humorista aclamado e escolhido pelo povo forjou documentos para esconder seu grau de instrução. Nada mal para o começo de uma carreira política fadada ao fracasso.

Infelizmente, ele não é o único. Há uma corja de políticos envolvidos em escândalos de corrupção que permanece ocupando as cadeiras da Câmara e do Senado Federal. Não importa que eles percam a boa reputação, os bons precedentes, o caráter e a credibilidade. O povo brasileiro perde a memória, passa a não considerar tão importante ou nocivo e dá a eles uma nova chance. Ou, pior ainda, os reelege por absoluta falta de opção.

Felizmente – se é que se pode ser feliz com uma classe política tão deletéria – foi aprovada, recentemente, a iniciativa popular que instituiu o Ficha Limpa. Esse projeto de lei, sancionado como Lei Complementar nº 135 em 4 de julho deste ano, pretende impedir a candidatura de políticos que estejam com situação judicial irregular. Por esta norma, o Supremo Tribunal Federal barrou a candidatura de Jader Barbalho, ex-presidente do senado e de Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal. Estes foram considerados “fichas sujas” por porque cometeram delitos que resultariam na cassação de seus mandatos de senador, mas renunciaram para preservar seus direitos políticos.

Certamente, o Ficha Limpa não é uma solução definitiva para transformar a política no Brasil. Para isso, é necessário que haja interesse e investimento, por parte do governo, para resgatar a consciência política dos jovens, subtraída por decêndios de dominação coronelista. É preciso que eles sejam suficientemente bem informados para saber escolher seus representantes, mas, acima disso, é preciso que existam representantes minimamente “elegíveis”.

Mulheres nascem assim, homens nascem assado!


Sim, é fato que mulheres e homens já nascem com a fisiologia diferente! E que mulheres crescem mesmo com o tal complexo de inferioridade por serem "castradas"! O corpo de ambos, em silêncio, reflete no emocional e no cultural.
Enquanto o menino desejará a mãe desde o nascimento até a interrupção do Complexo de Édipo, a menina, no decorrer de seu desenvolvimento, passará a ver sua mãe, que foi seu primeiro objeto de desejo, como rival, e sua libido será deslocada para a figura paterna. A confusão já começa aí!
O homem tem e honra (tá, depende de como se encara essa palavra e o significado dela) o falo. Não precisa disputar com outro homem, que também possui seu falo. Não precisa se preocupar em ser suficiente para uma mulher, porque já é até mais (sim, ele é mais! ele tem mais, horas!).
Homens são mais amigos, mulheres são competitivas demais, falsas até. É o que dizem! Homens podem cometer certos deslizes, porque são homens. Mulheres são proibidas de decepcionarem um homem, porque são mulheres. Têm menos, são menos! Não é verdade?
A verdade é que, mesmo com tudo isso, algumas (é... algumas poucas) mulheres ainda conseguem SER mais! Sem falo, nem nada que passaram a projetar na mulher para compensar a falta disso. E tem mais! O mapa do corpo masculino (que é o que o elevou a tal posto) qualquer um (ou uma) tem. Mas "ninguém tem o mapa da alma da mulher", como afirma o grande Zé Ramalho. E a mulher que consegue SER mais, é pela alma, não pelo corpo!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dois ensaios para a vida


Há um ditado em que errar uma vez é humano, persistir no erro é... é... ah, não sei. Só sei que, pela segunda vez, o ENEM deu errado e prejudicou milhares de estudantes que tentavam ingressar em alguma universidade do país.

Para quem não se lembra, em 2009, a prova do Exame Nacional do Ensino Médio “vazou” e teve de ser cancelada na quinta feira anterior ao fim de semana de sua aplicação, no início de outubro.

Quando Joaquim José Soares Neto, então presidente do INEP declarou, ainda em 2009, que o ENEM 2010 seria marcado pela segurança e que seria este o motivo da escolha da gráfica que faria a impressão, e não qualquer outro, ele desconsiderou a possibilidade de a gráfica ser segura, mas não prezar pelo rigor no processo de impressão. Em 2010, a empresa escolhida foi a mesma contratada para a impressão da segunda versão das provas do ano passado, e o Exame não ficou longe dos problemas. Os cabeçalhos das folhas de resposta foram trocados e a credibilidade do ENEM, que já era duvidosa, agora é motivo de risos e protestos de estudantes que se empenharam e tiveram nada menos que 10 horas de prova perdidas.

Além das falhas, essa grande demora para soltar o gabarito oficial deve ser por medo de sair com erros, repetindo a história de 2009. É por isso que, em diversos lugares, quem prestou o Exame sai às ruas de roupa preta e nariz de palhaço. Vai que assim são notados e alguém perceba que está faltando respeito com aqueles que se empenham, estudam, mas não podem alcançar seus objetivos por erro dos outros!

Muitas universidades estão repensando a utilização do Enem em substituição do processo seletivo tradicional, para que, juntamente com o ENEM, a credibilidade das instituições de ensino superior não seja comprometida. A UFU também pondera, já que, desde 2009, adotou a nota da prova como primeira fase do vestibular, mas não sabe quais serão os desdobramentos dessa segunda falha. Em entrevista à TV Universitária, o diretor de Processo Seletivo Gilmar da Cunha Sousa comentou sobre a posição da Universidade Federal de Uberlândia nessa situação. Confira o vídeo, disponível em: www.dirco.ufu.br/content/diretor-de-processos-seletivos-fala-sobre-o-enem.

Quem sabe um dia o INEP consiga corrigir uma falha sem abrir espaço para outras, já que, com essas duas experiências, ficou claro que o governo não consegue suportar a aplicação de uma prova desse porte e dessa importância. Só que, pelo jeito, parece que tal dia está longe de chegar. Mesmo assim, o presidente Lula insiste em dizer que o Exame “foi um sucesso”, ignorando os 21 mil candidatos que receberam folhas de respostas que não puderam ser respondidas corretamente. Já ficou provado que não bastou apenas “UM ensaio para a vida”, como ambiciona o slogan do Enem.

Mundo de papelão


Se este texto tivesse uma trilha sonora, seria esta.

Quando se nasce, a visão de mundo se restringe ao útero materno. Ao longo da vida, ela é ampliada pelos conhecimentos adquiridos e pelas experiências vivenciadas. Assim, entende-se mais sobre o ambiente ao redor. É importante frisar, contudo, que o entendimento nunca será total enquanto a pessoa estiver presa ao corpo e aos cinco sentidos, que são limitados e, portanto, falhos. Além disso, diversas estruturas preexistentes na mente – pré-conceitos – fazem com que os juízos de valor sejam tendenciosos. Há uma dificuldade natural em entender o próximo, porque cada indivíduo pensa que seu ponto de vista é universal.

Estas limitações físicas e mentais são mais fortes durante a infância. As pessoas mais próximas da criança – os pais – criam e incutem nela uma determinada mentalidade, à semelhança das suas próprias, enquanto o filho não tem condições de desenvolvê-la por si. É como se o ser humano recebesse nos seus primeiros anos de vida uma caixa de papelão, na qual poderá se refugiar e se proteger dos perigos externos, recebendo conforto e abrigo. Poderá pintá-la como quiser, sempre com a ajuda e a supervisão paterna, e é destas cores que ele enxergará o mundo. Essa proteção é necessária para que a criança sinta a segurança de que precisa no processo de definição das suas crenças, valores e conceitos. Os maiores problemas acontecem em dois momentos: quando se abandona a infância (inevitavelmente) e quando os pais superprotegem a prole (o que pode ser evitado).


Para ilustrar o primeiro caso, eis um exemplo. No ano de 2002, Rafael tinha 12 anos e era filho único. Ele era católico, frequentava a igreja e concordava com todos os ensinamentos por ela repassados. Acreditava que todo namoro é o início de um relacionamento que deve culminar em um casamento, o qual deve durar a vida inteira. Esses ideais eram reforçados pelo fato de que seus pais não eram separados. Raramente era confrontado com outras visões de mundo, visto que estudava em um colégio católico e seus colegas pensavam mais ou menos da mesma forma. O consumo de cigarro, bebidas alcoólicas e drogas ilícitas, bem como as relações antes do matrimônio, eram repreensíveis.

Hoje, no ano de 2010, Rafael tem 20 anos. Está no sexto período de Engenharia Civil de uma universidade federal. Seus pais se separaram há três anos. Sua convivência com colegas espíritas, ateus e budistas abalou suas convicções religiosas. Quase todos os seus colegas ficam nas festas e boa parte já não é mais virgem. Ao sair à noite, costumam perguntar-lhe porque não bebe. Já lhe ofereceram cocaína duas vezes. Ele negou, embora tenha experimentado maconha há um ano, sem o conhecimento dos pais. Rafael faz tratamento psicológico por causa de frequentes crises de ansiedade e depressão.


A história de Rafael, embora completamente fictícia, mostra o impacto pelo qual passa um jovem que tem a sua formação inicial confrontada com as diversas opiniões das pessoas ao seu redor. É o momento em que a caixa de papelão tem que ser rasgada para que a ex-criança se torne um adulto responsável, consciente, independente e autônomo. É um sofrimento necessário, porque tira a pessoa da zona de conforto e transporta-a para a zona de aprendizado, levando ao crescimento. A convivência com outras pessoas que não os pais e os amigos de infância – gente de todas as idades, ideologias e cidades de origem – faz com que se descubra que existem outras visões de mundo, ampliando a nossa própria.

É claro que, se não for bem administrado ou se houver interferência negativa dos pais, no sentido de superproteção, este processo pode levar a um sofrimento exagerado e levar até ao aparecimento de doenças. Também é preciso lembrar que tudo isto é gradual e lento, uma vez que, por maior que seja nossa convivência com outras pessoas, a sociedade é incrivelmente diversa e não há como conhecer tudo e todos. Porém, libertar-se da caixa de papelão e encarar o mundo é fundamental para a construção de nossas próprias crenças, valores e conceitos, que certamente não serão iguais ao dos nossos pais. Do contrário, pode acontecer o mesmo que acontece com o passarinho que não consegue quebrar a casca do ovo ao nascer: morre sufocado.

Com que roupa eu vou?


Quantas vezes você já se fez essa pergunta? Por mais bobo que pareça ser, quando escolhemos algo para vestir nos cobrimos de signos, de diversos significados que transmitem muito mais sobre nós do que podemos imaginar. As informações veiculadas nas vestimentas permitem a comunicação entre as pessoas sem a utilização de palavras, o que em minha opinião é muito perigoso. Afinal, o quanto você deseja que saibam sobre você?

Você acha que não, mas quando você vê aquela sua amiga vestida em um modelo com pouquíssimos centímetros, o que vem a sua mente? Mesmo que inconsciente, informações são absorvidas pelo observador e outras transmitidas por ele por meio das roupas, e dessa maneira uma comunicação se estabelece, muito antes de palavras serem dirigidas.

Desde a origem da humanidade, formas de linguagens foram surgindo para que os homens pudessem se interagir. Essas possibilidades de comunicação crescem cada vez mais conforme a evolução humana, e claro, aguçam aqueles interessados em compreender a sociedade a estudarem sobre elas.

Alison Lurie, autora de A Linguagem das Roupas (1997), não teve dificuldades de perceber a comunicação além da língua, no modo de ver dela
”podemos mentir na linguagem das roupas ou tentar dizer a verdade; porém, a menos que estejamos nus ou carecas, é impossível ficarmos em silêncio”.

O que você está tagarelando por meio dessa comunicação não-verbal? Cuidado. Se eu fosse você, pensaria duas vezes antes de pegar a primeira roupa que ver no guarda-roupa.