
Talvez o título induza ao humor ácido, mas o papo é sério.
Aborto é assunto muito delicado e complexo. A vida é o bem mais precioso do ser humano e deve ser preservada. No entanto, o aborto em alguns casos específicos, como estupro, risco de morte da gestante e a constatação de fetos acéfalos, faz-se necessário. É um ato insano e uma imprudência absurda levar uma gravidez adiante por falso moralismo.
As discussões sobre esse tema voltaram a ocupar espaço na mídia em 2010, principalmente no período das eleições. Os candidatos a presidência mostraram seus pontos de vista e o modo como pretendem ministrar as questões referentes ao tema. No entanto a candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, se comportou de maneira reprovável ao expor seus argumentos a favor da legalização, e pouco tempo depois mudar de opinião.
Os petistas, quando flagrados numa ilegalidade, como foi o escândalo da Casa Civil, ou numa posição considerada incômoda, como é o caso da descriminalização do aborto, tem sempre a mesma e conhecida resposta: “É mentira. São boatos!”. Dilma, como se sabe, era favorável à descriminalização do aborto, enquanto ministra. Mas até perceber que sua tese não era prestigiada entre os brasileiros, ela já era a pré-candidata de Lula à Presidência. Então, apressou-se em trocar o viés do seu discurso, embora, a legalização seja uma resolução aprovada pelo congresso do PT, que todo militante, inclusive Dilma é uma militante, tem a obrigação de defender. Mas ela não o fez. Por quê? Para ter chances de ganhar as eleições, porque aí vale tudo, não é mesmo?
Bom, depois do segundo turno concluído e a vitória de Dilma garantida, resta-nos, agora, aguardar para saber o desfecho dessas contradições. Mas uma coisa é certa, o país ainda vai passar por vários outros debates, até que se chegue a um consenso sobre a descriminalização do aborto, que contemplará, inevitavelmente, aspectos religiosos e de foro íntimo.
Afinal, essa é uma das características da nossa democracia: liberdade de expressão. Agora, se essa democracia vai conseguir colocar um ponto final nessa discussão que se arrasta há vários anos, já é outra história.
Por Eric Dayson







