terça-feira, 16 de novembro de 2010

Suicídio, modernidade e a promessa da vida perfeita


Às vezes eu me pergunto o que leva a pessoa ao suicídio, qual o motivo tão forte para interromper a própria vida? Que mal é esse que não escolhe idade, classe social, cor ou cultura?
Vivemos em um mundo moderno, cheio de fantasias produzidas pelo capitalismo, promessas de uma vida mais prática, confortável e a lei de que você só pode ser feliz se tiver a roupa de marca, o carro do ano, entre outras idéias difundidas no nosso dia a dia pelas diversas corporações. O que mais é preocupante é que essa taxa só tende a crescer de acordo com as pesquisas. A vida moderninha que promete a felicidade completa está indo em direção contrária a sua ideologia, a mensagem de aproveitar a vida acima de qualquer coisa, não se importando com o outro e a busca compulsiva pelo dinheiro está levando as pessoas a uma solidão, pois mesmo com a realização de todos estes quesitos quase obrigatórios da vida atual a pessoa acaba se encontrando sozinha em meio a esse cotidiano tão acelerado de diversas informações a cada momento.
Acredito que o grande motivo para essa solidão na vida contemporânea são as relações entre as pessoas baseadas muitas vezes no interesse, o valor do outro esta no que ele tem, as pessoas passaram literalmente a ter o seu preço. A parceria, o companheirismo dura até o momento em que você tem um alto valor, a amizade dura apenas nas noites de bebedeiras, momentos regados a muito consumismo e de relações extremamente rasas. E é nessa cultura consumista que o mundo vai se desenvolvendo, está aí a explicação de pessoas que cometem suicídios aparentemente inexplicáveis. A falta de recursos para ter tudo que a modernidade propõe é um motivo relevantemente importante, mas a vida consumista totalmente realizada também é, o ser humano passa a ser vazio e sozinho, apesar de ter diversas "amizades" e possuir tudo que o capitalismo oferece.

Tupinicagem de Opinião



A Endofobia, é uma rara manisfestação que se materializa no excluir o semelhante, em negar direitos iguais aos próprios compatriotas, mas é comum ao brasileiro no que diz respeito a produção cinematográfica nacional.
Não é raro conhecer uma pessoa que tem aquele discurso “Não gosto de filme nacional porque só tem violência, peito ou maconha”, ou a variação dos pseudo-cult nas vernissages e centros estudantis,“O cinema nacional passa uma idéia que não condiz com a realidade brasileira, em que tudo é favela, violência ou samba e futebol”.
O brasileiro tem uma séria tendência histórica de se preocupar demais com a visão externa que estão tendo de nós, e vamos encarar a verdade? Muito antes de existir “Cidade de Deus” no cinema, os franceses já torciam os narizes para nós. Precedendo a estréia de “Tropa de Elite”, europeus em geral nos tratavam como imigrantes em potencial e olhe lá.
É certo, que ninguém deseja o conformismo de aceitar os rótulos impostos. Mas é fato também, que o Brasil não deve esconder sua realidade. É só o que tem para se mostrar? Não é. Mas são os filmes que combinam tudo que move as indústrias cinematográficas de Bolly a Hollywood: Sexo, Violência e Frívolidades. Porque são temas que despertam o interesse humano. O que realmente incomoda, é que no Brasil até a ficção se apoia no real. Diferentemente da violência quase cômica de Quentin Tarantino e as frívolidades das paixões adolescentes norte americanas. Francamente, veja lá se existe alguma liga das Cheerleaders preocupadas em combater a imagem de moças de procedência duvidosa, inteligência quase nula e mau caráter que é passada na maioria dos filmes?
Desde 1994, com a indicação do filme “O quatrilho” para o Oscar. O cinema nacional começou a se reinventar sob o patamar da dupla dinâmica de qualquer produção cinematográfica de qualidade: técnica e estética. Aviso então, para os endofóbicos que ficam aí, apenas criticando o conteúdo dos filmes, que não é pela violência exploratória que essas películas se destacam em festivais, e sim pela qualidade que possuem.
O filme “Cidade de Deus” tem uma das fotografias mais elogiadas do cinema mundial, assim como o filme “O ano em que meus pais sairam de férias” vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim de 2008. E o tão criticado “Tropa de Elite” ? Ganhou o prêmio máximo neste mesmo festival, mas no ano de 2009, o Urso de Ouro. Em festivais desse porte, não tem comissão nenhuma veiculada a ONU premiando a tentativa dos países emergentes. Então endofóbicos, percebam de uma vez por todas, que o cinema nacional é digno, e como qualquer indústria nacional tem a liberdade de montar obras ficcionais,como é o caso de “Estômago”, reais como a biografia de “Chico Xavier”, ou referenciais, como é o caso de “Tropa de Elite 2”. Como já foi dito, é uma indústria como qualquer outra que precisa despertar o interesse humano.
Cinema, não é cartão de visitas. É um viés da cultura, é a sétima arte por isso não deve nada a ninguém, nem mesmo aos pseudo críticos que são tão ignorantes quanto seus comentários. Não sabem nem com o que são revoltados, o que incomoda não é o Cinema e sim a realidade brasileira.



por Laís Castro

"A água, o fogo, o ar e o pó...

...Sou tudo. Logo, não estou só!" *

Por Dayane Nogueira

Desequilíbrio ambiental, sustentabilidade, responsabilidade ecológica. Músicas, banda, fãs. O que esses dois grupos de palavras-chaves têm em comum? A princípio, nada. Mas quatro caras do Rio de Janeiro fizeram música e natureza andarem por aí, de mãos dadas, entre as redes sociais, como um belo casal apaixonado. Falo dessa forma, como se fosse um relacionamento, porque isso só foi possível graças a uma relação de cumplicidade, confiança e – porque não – de amor entre uma banda e seus fãs.

Danilo Cutrim, Vitor Isensee, Rodrigo Costa e Nicolas Christ formam a banda carioca Forfun. Na ativa desde 2001, a banda já gravou 3 álbuns de estúdio. O último, Polisenso, traz uma sonoridade diferente dos outros CDs, com elementos eletrônicos, ritmos diversos – como reggae, dub e ritmos latinos – e com letras que trazem mensagens críticas sobre problemas sociais e meio ambiente, como Panorama e Escala Latina.

Embalados nesse clima de preocupação por um mundo melhor, o Forfun lançou um projeto, dia 9 de novembro, chamado Polisenso Mata-Atlântica. A iniciativa se baseia numa atitude bem simples: as músicas do CD Polisenso foram hospedadas no site da Trama Virtual, que promove um download remunerado para as bandas. Assim, a renda obtida com as músicas baixadas no site será repassada para um mutirão organizado pelo Programa de Voluntários do Parque Nacional da Tijuca, que tem por objetivos realizar atividades como manutenção de trilhas, recolhimento de lixo, reflorestamento e conscientização dos visitantes do Parque Nacional da Tijuca, importante representante da Mata-Atlântica.

Agora, o Forfun conta com a ajuda dos fãs na consolidação do Polisenso Mata-Atlântica, através dos downloads e também da divulgação do projeto pelas redes sociais. A união entre a banda e seus fãs começa a dar os primeiros sinais de sucesso, já que entre as 10 músicas mais baixadas no site da Trama, 8 são do CD Polisenso.

Essa não é a primeira vez que se busca mudar o mundo pela música. O Festival de Woodstock, pregando o lema “paz e amor”, é um exemplo clássico. Atualmente, com o tema ambiental em destaque, festivais de música nacionais, como o Natura About Us e o Start With You (SWU), e até mesmo festivais regionais, como o EcoMusic, que aconteceu dia 13 de novembro em Divinópolis (MG), têm se unido à sustentabilidade para garantir um mundo melhor.

Mas é preciso muito dinheiro para se estruturar um festival e há, ainda, outros interesses econômicos e fatores burocráticos em jogo. A iniciativa da banda Forfun não dá para ser comparada com esses festivais. Fazer downloads de músicas na internet é tão simples quanto evitar o uso de sacolas plásticas, realizar coleta seletiva com o lixo doméstico, utilizar lâmpadas fluorescentes ou tomar banhos de até 5 minutos.

Assim, com alguns cliques, você pode ajudar o planeta. E, ainda, curtir uma boa música! Então, que tal fazer a sua boa ação do dia?

Projeto Forfun - Polisenso Mata-Atlântica: [ http://forfun.art.br/mata-atlantica/ ]





* Trecho extraído da música Cigarras, da banda Forfun.

Apague a luz! Estou em greve.



Estou em greve! Greve de escrita, de trabalho, de televisão, e até de fome se for preciso. Isso mesmo. Todos podem reclamar dos salários, das terceirizações, dos jogos de futebol, da pequena participação dos lucros da empresa, de tudo. Então resolvi protestar também. Meu protesto é pelo respeito. Eu apenas quero ser ouvida! É tão difícil assim?

Todos os dias eu tenho um monte de reclamações a fazer. São os ônibus que se atrasam, a chuva que cai na hora errada, meu sapato que estraga (e era meu preferido), meu cabelo que arrepia, meu namoro que não vai bem, minha faculdade que está difícil. AH! Ainda tem minha mãe com a mania de limpeza e perfeição da casa!

E para quem vou reclamar? Quem neste país vai me escutar? Acho que todos estão ocupados demais em seus twitters, seus sites pessoais, orkuts, blogs, assistindo a novela no youtube, correndo pra TV para não perder o “Boa Noite” do Bonner (eu prefiro o “Boa Tarde” do Evaristo, mas tudo bem). Por isso eu protesto: por um mundo mais sensível.

Observe alguns dados. A América Latina preserva apenas 59% da área original, ou seja 4,76 milhões de km² já foram desmatados, segundo a WWF. No Brasil são mais 37,5% de residências sofrendo com insegurança alimentar, conforme o IBGE. Em Uberlândia ocorreram 63 assassinatos, de janeiro a junho de 2010, de acordo com a Agência Minas. Agora, pense comigo, é justo ou não eu pedir mais atenção? Esqueça meu sapato, meu cabelo, minha mãe... Pense um pouco mais no que podemos fazer pelo mundo. Dentro destas estatísticas estão pessoas. Seres humanos. Vidas. Quem pensou nelas? Quem se importou com elas, o Governo? Acho que não.

Sempre é possível um pouco mais. Atenção é o que o mundo precisa. É o que as pessoas necessitam. Pequenos gestos fazem grandes diferenças. Como dizia o poeta: “You may say, I'm a dreamer. But I'm not the only one. I hope some day You'll join us. And the world will live as one.”

Água com Açúcar

Nada como um bom filme para melhorar os ânimos. Não é preciso ser um cinéfilo ou saber o nome do primeiro filme dirigido pelo diretor mais famoso da academia cinematográfica para concordar com isso, certo?! Gostar de filmes vai muito além do fato de entender a técnica, a fotografia, o figurino e a maquiagem. É sentir palpitações no estômago, seja de felicidade, tristeza ou de medo. É paixão pelo momento, é sentimento de afinidade com a história. Que atire o primeiro torrão de açúcar quem nunca chorou por filme algum!

A maioria de nós era criança quando o tão esperado Titanic estreou nas telonas em 1997, mas a idade não nos impediu de demonstrar nossos sentimentos como adultos. Desde a primeira exibição do filme substitui o preferido e amado “Meu primeiro amor” pelo romance marítimo. Chorei pela morte do Jack (Leonardo DiCaprio), e continuo chorando por todas as mortes de personagens pelos quais me apego. Mufasa do “ Rei leão” é o grande ladrão de lágrimas.

A preferência por filmes considerados água com açúcar, ou seja, românticos, emotivos e dramáticos pode ser relacionada tanto com a personalidade de cada indivíduo quanto a um momento específico da vida do mesmo. Estar apaixonado, e até mesmo ter tido uma desilusão amorosa são pratos cheios para se sentar em frente a televisão de baixo do edredon e assistir filmes como, Uma linda Mulher, Orgulho e Preconceito, O vento levou e os mais recentes, PS.: Eu te amo, O Diário de Bridget Jones, 10 coisas que odeio em você, entre outros.
Para quem vive uma paixão esse tipo de filme, seja romance ou comédia romântica, faz com que a pessoa se identifique com as situações vividas pelos protagonistas. Além disso, o prazer da proximidade com a história proporciona aos espectadores aquelas conhecidas borboletas no estômago, e alimenta sentimentos tão próximos do coração, como o amor e a felicidade. Já no caso de desilusão filmes assim são boas faíscas de esperanças e votos de confiança para possíveis relacionamentos futuros, despertando, em alguns casos, sentimentos até então adormecidos e endurecidos. Afinal, quem nunca achou que sua vida fosse um filme?!
A vida é um drama, uma comédia romântica, na qual os personagens se encontram no início, se desencontram no meio e vivem felizes para sempre no final. E como diria a música de Tom Jobim, “Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.
Por Natália Santos

O aniversariante e a Santa Democracia



    Gente, hoje, 16 de novembro de 2010, Saramago completaria 88 anos. Ele andava meio sumido das minhas leituras... e a notícia me trouxe saudade, então resolvi visitar o blog dele -sim, vejam só, Saramago era blogueiro!-. Saúde e disposição era o que não faltava à lucidez crítica desse grande pensador.
    Em uma das últimas postagens do blog, que desde a sua morte está aos cuidados da Fundação José Saramago, há um trecho, de 1994, em que o escritor questiona o conceito de democracia: "Apenas se nos pede o voto para homologar uma quantidade de coisas, em cuja definição não somos levados em conta.  Apenas nos pedem o voto, não nos pedem que participemos."
    Em 2007, foi lançado "O mundo global visto do lado de cá", um documentário esclarecedor do cineasta brasileiro Sílvio Tendler que denuncia o modelo neoliberal assumido pelo capitalismo em sua fase mais recente; e lá estava Saramago, ainda questionando a existência da democracia, denúncia esta reforçada pelo não menos brilhante Milton Santos.
   Sobre a questão, ambos compartilham o mesmo ponto de vista: a democracia é uma lenda na contemporaneidade. Isso porque, afirma Saramago, o mundo globalizado não é governado pelo povo, ou por representantes do povo, como prevê a teoria democrática, mas por corporações financeiras internacionais que, aliadas aos países desenvolvidos, concentram o controle dos fluxos de capitais, mercadorias e serviços mais significativos do mercado mundial.

A história da Santa Democracia em 1 minuto e 44 segundos: <http://www.youtube.com/watch?v=m1nePkQAM4w&feature=related>

   Além disso, a fim de assegurar a hegemonia, esses líderes econômicos se apropriam também da mídia, ferramenta fundamental para a difusão de ideologias que favorecem a manutenção desse quadro, o que afeta a geografia, a economia e a cultura de todas as nações, principalmente das dependentes. Milton Santos atribui a denominação de "lógica globalitária" para esse círculo vicioso que caracteriza o capitalismo neoliberal. Pequena digressão: sabemos, enquanto estudantes de Comunicação Social, que a Teoria da Agulha Hipodérmica é furada e que, como diz nosso querido Jesus Martín-Barbero, há brechas na indústria midiática que permitem os indivíduos a fugir da indústria cultural,  no entanto, a influência desta na sociedade é inegável.    
    De volta à democracia, vejamos o Brasil. Quem já assistiu Tropa de Elite 2 há de concordar com o fato de que votos são, hoje, a mercadoria mais visada por aqueles que detêm o poder. José Padilha fez questão de escancarar para o mundo a zona, no seu sentido mais baixo, -não há porque me desculpar pela franqueza- que é a democracia brasileira. A polícia é corrompida, a esfera política é corrupta e a mídia não está isenta, porque ela se vende a interesses corruptos.
   Assim a democracia é negociada e assim nos vai sendo imposta; e nós, acomodados que somos ao esteriótipo de país despolitizado, estamos cada vez mais vulneráveis a essa imposição. Não desmereço aqui os avanços da país com relação ao reconhecimento das igualdades sociais, pois na dimensão simbólica o governo Lula me pareceu benéfico.
   O que me admira é a postura do brasileiro diante da situação que vive a democracia. Será que as sátiras aos candidatos nas campanhas eleitorais geram uma reflexão crítica na maioria da população? Ou será que prevalece o riso? Será que, na memória do público, a pancadaria do Tropa de Elite abafa as denúncias expostas pelo filme? Entendo que  isso é uma herança cultural, arraigada a complexos acontecimentos históricos, mas me preocupa.
   Vou mandar um clichê -eu sei, são batidos só que, não raro, são a mais pura verdade-, mas é preciso abandonar o comodismo e fazer a democracia acontecer participando da vida política do nosso país, para que esta não seja uma eterna lacuna na cultura brasileira. Afinal, se o interesse não partir de nós, da Santa Democracia é que não vai partir. Ela é oca; não faz milagres.

Um desejo meu: MUITOS ANOS de VIDA para o Saramago!!! Que ele nos inspire em muitas ações e reflexões!

Para quem se interessar pelo documentário, ele está disponibilizado na íntegra no youtube:
Esse é mais longo, são 10 partes de 10 minutos cada, mas assistam! Vale à pena!

Natália Faria

Mestre?! Não, Meritíssimo!

Do Blog: Raiz Quadrada de 36
Nestas linhas não se falará sobre as más condições de trabalho e os péssimos salários dos professores, além da desvalorização ocorrida na carreira do magistério no âmbito social de forma generalizada. Não se falará também sobre a qualidade pífia da educação brasileira, medida por avaliações elaboradas de cima para baixo, sem que se ouça ou se inclua a comunidade escolar. Mas cabe chamar atenção à polêmica sobre o palhaço Tiririca [quase nobre Deputado Francisco Everardo Oliveira Silva]. Veja abaixo trecho da notícia do Estadão, do dia 11 deste mês:

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), desembargador Walter de Almeida Guilherme, disse hoje que o deputado eleito Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca (PR), conseguiu ler e escrever o que foi pedido no teste. Indagado se o deputado sabe realmente ler e escrever, o desembargador disse que seria leviano de sua parte se antecipar sobre o assunto. "É o juiz quem vai responder sobre isso."
Atenção às aspas. E atenção igualmente ao fato de que o teste aplicado em Tiririca era para verificar, comprovar, atestar etc. se o candidato eleito pelo PR realmente sabe ler e escrever, condição mínima para ser postulante a um cargo eletivo. 

Consideramos as seguintes hipóteses: Se o palhaço fosse acusado de ter incapacidade mental para o cargo, então se chamaria um médico psiquiatra que, após uma bateria de exames, remeteria um laudo ao juiz do caso. Nunca o meritíssimo poderia avaliar a capacidade mental de um réu. Em outra situação, se o futuro deputado fosse acusado de subornar impostos, qualquer juiz de direito acataria a acusação com documentos comprobatórios emitidos pela Receita Federal ou outro órgão competente. Em uma terceira hipótese, Tiririca fosse acusado de falsidade ideológica, como se está sendo feito pela promotoria do caso, uma perícia técnica poderia comprovar se o documento entregue ao TRE que comprova o grau de instrução de Tiririca é verdadeiro.

Mas quando se trata de comprovar se o cidadão é alfabetizado perante a justiça, o próprio juiz aplica o teste e diz se a pessoa tem ou não proficiência em leitura e escrita. Por que não se convoca um profissional capacitado, com formação específica para este fim? Será que a justiça e os magistrados se esquecem que há professores das séries iniciais e aqueles formados em Língua Portuguesa para essa finalidade?

Não é de se espantar que em cursos de Direito, as aulas de Português são ministradas por professores de Direito e não da área de Letras. Daí se vê o porquê do arcaísmo com que profissionais da área tratam a língua. Não como forma de distanciamento, polidez e formalidade, mas como forma de perpetuação das distâncias entre a justiça conduzida ao rico e a justiça inacessível ao pobre. Incluí-se no arcabouço de mazelas da profissão de professor a falta de respeito da Justiça Brasileira.