terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mestre?! Não, Meritíssimo!

Do Blog: Raiz Quadrada de 36
Nestas linhas não se falará sobre as más condições de trabalho e os péssimos salários dos professores, além da desvalorização ocorrida na carreira do magistério no âmbito social de forma generalizada. Não se falará também sobre a qualidade pífia da educação brasileira, medida por avaliações elaboradas de cima para baixo, sem que se ouça ou se inclua a comunidade escolar. Mas cabe chamar atenção à polêmica sobre o palhaço Tiririca [quase nobre Deputado Francisco Everardo Oliveira Silva]. Veja abaixo trecho da notícia do Estadão, do dia 11 deste mês:

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), desembargador Walter de Almeida Guilherme, disse hoje que o deputado eleito Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca (PR), conseguiu ler e escrever o que foi pedido no teste. Indagado se o deputado sabe realmente ler e escrever, o desembargador disse que seria leviano de sua parte se antecipar sobre o assunto. "É o juiz quem vai responder sobre isso."
Atenção às aspas. E atenção igualmente ao fato de que o teste aplicado em Tiririca era para verificar, comprovar, atestar etc. se o candidato eleito pelo PR realmente sabe ler e escrever, condição mínima para ser postulante a um cargo eletivo. 

Consideramos as seguintes hipóteses: Se o palhaço fosse acusado de ter incapacidade mental para o cargo, então se chamaria um médico psiquiatra que, após uma bateria de exames, remeteria um laudo ao juiz do caso. Nunca o meritíssimo poderia avaliar a capacidade mental de um réu. Em outra situação, se o futuro deputado fosse acusado de subornar impostos, qualquer juiz de direito acataria a acusação com documentos comprobatórios emitidos pela Receita Federal ou outro órgão competente. Em uma terceira hipótese, Tiririca fosse acusado de falsidade ideológica, como se está sendo feito pela promotoria do caso, uma perícia técnica poderia comprovar se o documento entregue ao TRE que comprova o grau de instrução de Tiririca é verdadeiro.

Mas quando se trata de comprovar se o cidadão é alfabetizado perante a justiça, o próprio juiz aplica o teste e diz se a pessoa tem ou não proficiência em leitura e escrita. Por que não se convoca um profissional capacitado, com formação específica para este fim? Será que a justiça e os magistrados se esquecem que há professores das séries iniciais e aqueles formados em Língua Portuguesa para essa finalidade?

Não é de se espantar que em cursos de Direito, as aulas de Português são ministradas por professores de Direito e não da área de Letras. Daí se vê o porquê do arcaísmo com que profissionais da área tratam a língua. Não como forma de distanciamento, polidez e formalidade, mas como forma de perpetuação das distâncias entre a justiça conduzida ao rico e a justiça inacessível ao pobre. Incluí-se no arcabouço de mazelas da profissão de professor a falta de respeito da Justiça Brasileira.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "Daí se vê o porquê do arcaísmo com que profissionais da área tratam a língua."
    Essa realidade é triste no campo do Direito, ver documentos redigidos inteiros em ordem indireta e carregados de palavras e sentenças alienadas à nossa realidade só faz com que a Justiça perca mais alguns bondes além dos que já perdeu.
    Mas existem aqueles que são contra essa corrente, no meu caso, tive uma professora de português (formada em Letras) que influenciava os alunos de maneira "saudável", mostrando que o arcaísmo linguístico está em desuso, não apenas pelos motivos anacrônicos, mas também pelo fato de que se o profissional escrever claramente, aproximará o Direito de quem precisa do Direito.
    O engraçado é o seguinte, os profissionais do Direito se queixam do legislador omisso e confuso, e na hora de avaliar um legislador o fazem de maneira raza e até irresponsável, pois enfatizando o quê foi dito acima, existem professores de séries iniciais e outros formados em Língua Portuguesa para essa finalidade.

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  3. Adoro receber críticas. Sério mesmo. Mexe com nossos brios e faz a gente ser menos convencido de qualquer coisa. Gabrielle, querida, havia me falado do título anterior do meu post... muito comunzinho, pouco interessante, quase nada chamativo. Então resolvi mudá-lo. Bom, se tiverem alguma crítica quanto a este, fiquem à vontade. :D

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  4. Gostei muito do seu post, Luiz!

    A princípio, quando terminei de ler o texto, eu discordei! Compreendi o seu ponto de vista, mas seria necessário chamar um profissional de Língua Portuguesa para este caso? Pelo que entendi, o teste identifica se o candidato tão somente sabe ler e escrever, mas não mede sua capacidade de entendimento, reflexão, etc. Ou seja, a prova identifica o analfabetismo simples, não o funcional. E espera-se que um indivíduo que chegou a uma alta posição no Judiciário tenha domínio básico da nossa língua, suficiente ao menos para fazer esta aferição.

    Logo depois eu li o post da Mayra e cheguei a uma conclusão: este meu argumento é perigoso! Acho que foi com este mesmo raciocínio que o Supremo Tribunal Federal derrubou a necessidade de o profissional de Jornalismo possuir um diploma para exercer seu ofício. Afinal, os juízes devem ter pensado que muitas pessoas já possuem o domínio básico das técnicas jornalísticas, suficiente ao menos para redigir uma matéria.

    Parece ser uma tendência da sociedade exigir mais a experiência de mercado e menos o conhecimento teórico, haja vista o surgimento de novos cursos técnicos e tecnológicos das mais variadas áreas. A nova lógica é de menos estudo e mais trabalho. E, nessa realidade, qual será o destino dos profissionais cujo trabalho, para ser bem-feito, depende de formação intelectual, como os professores de Português e os jornalistas?

    Será que o Tiririca está certo? Pior do que tá, não fica?

    Abraços!

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  5. A questao é a legitimidade da apuração. Com quais implicações um juíz pode testificar que um sujeito é capaz de ler e escrever? Claro que ele é capaz de interpretar essa caracteristica do sujeito.Mas essa é a função dele? a funçao dele é analisar os dados e julgar, um professor seria capaz de justificar por A+B sobre a capacidade linguistica do individuo, sem a responsabilidade de julgar. Uma das maiores dificuldades de um professor, é construir uma avaliação e avaliar, mas apesar de todas essas dificuldades ele passa anos discutindo essa peculiaridade da subjetividade presente em avaliaçoes,e possui alguns parêmetros que possibilitam que ele seja capaz de identificar as reais dificuldades do sujeito em questao.
    Achei interessante Luiz as observações de seu texto... Infelizmente, no Brasil o professor e a sua formação nao tem o devido respeito que merece.

    Bjokas!

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