segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Aprendendo a viver com séries de TV, pode?



Aula cancelada, feriado, férias, frio, chuva e preguiça. Tudo isso combina com uma coisa: ficar em casa de pijama assistindo uma das 20 séries que acompanho. Ou mais de uma delas, pra ser sincera. E enquanto faço minha pequena maratona, minha mãe fica na minha volta, tentando entender porque eu assisto tanta coisa assim.



A verdade é que estamos sempre cercados pela ficção, dos quadrinhos do jornal à novela das oito. Aliás, esse envolvimento com o não real está nas nossas vidas desde pequenos, quando gostávamos de ouvir fábulas, contos e ver os desenhos na TV. O que mudou agora? Ficamos mais velhos e passamos a acompanhar o drama de adolescentes e adultos, pois muitas vezes nos identificamos com eles.



Eu, pessoalmente, não tenho discriminação com quase nenhum tipo de série. Vou de The Event, que trata de alienígenas, a Friends, clássico da comédia americana. Sem esquecer, claro, minha preferida, Grey’s Anatomy, que mostra o cotidiano de médicos e como eles enfrentam diversos problemas, tanto os pessoais quanto profissionais.



Grey’s foi a série que me deu a ideia desse artigo, principalmente por causa das frases de impacto que a personagem principal, Meredith Grey, diz no início e fim de cada episódio. Em muitos casos eu me identifico profundamente com o que ela diz e acho que isso é o que me faz ver e rever todos os episódios em qualquer horário livre que eu tenha.



Ao mesmo tempo em que uso as séries para acompanhar os problemas dos personagens e deixar os meus de lado, fugindo da minha realidade, também passo a me identificar com certos papéis e acabo lidando com muitas coisas da mesma maneira que ele(a) lidaria.



Me identifico com a personagem Cristina Yang, médica e melhor amiga de Meredith. Assim como ela, sou uma pessoa fechada, fria, não sei fazer amizades com facilidade e, quando quero, sei fugir de um problema como ninguém. Ou melhor, só como a Cristina.



Na sétima temporada da série, Cristina tenta lidar com o trauma de operar o marido de Meredith com uma arma apontada em sua cabeça. E, ao invés de se abrir com seu marido e amigos, Yang se fecha, foge das salas de operação e acaba desistindo de sua residência. Confesso que essa não é a melhor maneira de lidar com um problema tão grave, mas é o que muitas pessoas acabam fazendo, e é importante que essas pessoas saibam que não são as únicas “fujonas”. Mesmo que Cristina seja uma personagem, é interessante mostrar ao público que somos todos livres para lidarmos com nossos problemas como quisermos.



E isso é o que eu mais gosto em todas essas séries, porque aprendemos, acima de tudo, que temos a nossa vida, temos a liberdade de agirmos como acharmos melhor – sem esquecer, claro, que podemos fazer alguns estragos exercitando essa liberdade. Mas o importante é saber que, real ou não, todo mundo erra, pisa na bola, tem o direito de achar graça dos outros, de si mesmo e pode sim, mudar quando achar conveniente.



O que interessa é que a ficção faz um bem enorme, nos ajuda a crescer e aprender demais. Só precisamos saber balancear as coisas e não esquecer de viver nossa vida. Também é válido tirar lições de vida e usar frases de seus personagens preferidos com os amigos, como faço agora: “I just want someone to talk to me about the tile”. (Eu só quero alguém pra conversar comigo sobre o ladrilho). A frase é da Cristina e, a partir de agora, a usarei para que meus amigos saibam quando não quero lidar com algo importante e conversar apenas sobre algo banal.

Por Mariana Lima

5 comentários:

  1. Dos mecanismos de defesa estudados pela Psicologia, além da identificação está a projeção. Nesse mecanismo, atributos pessoais de um indivíduo, pensamentos ou emoções são atribuídos ao outro. Seja real ou um personagem.

    Em um nível maior, o que foi descrito na postagem pode ser entendido como uma projeção de impulsos inconscientes de problemas, falhas e coisas que as pessoas não conseguem lidar no plano da realidade, da consciência.

    Todos gostamos de nos envolver, de nos entreter com aquilo com o que não temos relação direta. O uso de séries é interessante como uma válvula de escape que nos mantém distantes de brincar com sentimentos das pessoas de fato, deixando essas relações para a ficção.

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  2. Considerando o Jornalismo Opinativo e sua ramificação nas postagens em blogs, achei o post da amiga Mariana excelente. Afinal, ela soube transitar muito bem entre a narração e opinião e, acima de tudo, situa o leitor internauta conhecedor do assunto e também aquele que não domina tanto o tema.
    Além disso, a Mariana conseguiu criar uma proximidade com seu público alvo, o que ao meu ver é essencial em textos para blog. Ela não se perdeu na composição textual e não confundiu Jornalismo Informativo com Jornalismo Opinativo.
    Portanto, Mariana soube opinar sem transformar seu texto em um relato completamente narrativo e formal, o que não é algo fácil para nós, jornalistas em formação.

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  3. As séries, para os americanos, são como as novelas brasileiras, que criam paixões, despertam emoções e fazem que torçamos por um determinado personagem enquanto esperarmos pela “danação” de outros. E nessa ficção é que encontramos um refúgio para os dramas que vivemos no dia a dia. É nessa “realidade alternativa” que muitas vezes fugimos das nossas obrigações ou das insatisfações do cotidiano e buscamos esperanças, ou até mesmo uma distração, para que nossa vida adquira mais um pouco de cor. Porque nas séries podemos ser tudo que não somos na vida real: um médico com uma vida nas mãos, um policial atrás de um bandido, um super-herói que voa ou fazer parte de um coral. Só não podemos chegar ao ponto de abandonar a vida real e passar a viver pelas séries e achar que fazemos parte de uma.
    Gostei muito do post. Mariana soube transitar muito bem entre o Jornalismo Opinativo e o Jornalismo Informativo, expondo a sua opinião mas ao mesmo tempo se atendo a fatos. Para nós, jornalistas, essa distinção é essencial, já que certas horas não devemos transparecer opinião nenhuma, enquanto outras horas essa opinião é essencial.

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  4. Eu vivo em uma, quem disse que não. Mary Alice Young narrou um episódio meu esta semana, é.

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  5. Aprender com séries de TV é para mim um exercício prazeroso. Quando não desejo mais continuar a leitura daquele texto imenso de Economia ou estou cansada graças aos milhares de atividades desenvolvidas durante o dia, não há nada melhor do que me esparramar no sofá e aproveitar aqueles poucos minutos de "aprendizagem". Algumas vezes tenho muito trabalho a fazer, porém, decido me proporcionar um tempinho de alegria. Durante os episódios esqueço-me de minhas obrigações e adentro a história tentando solucionar os mistérios ou descobrir o que acontecerá em seguida. Triste nem sempre é o final de cada episódio mas sim aquele choque de realidade que levo ao descobri que devo voltar para minhas obrigações.
    Quando digo que assistir séries é uma forma de aprendizagem não minto. Tomei conhecimento de muitos assuntos através das fictícias histórias. Adorei saber mais sobre a pouco conhecida cultura Amish em episódios de Cold Case e de Bones.Acho incrível resolver crimes utilizando de conceitos e teorias da tão temida Física como o fazem os personagens de Numbers. E quem disse que entender de leis precisa ser algo maçante? Que tal aprender mais sobre direitos e deveres de uma forma cômica com Jane Bingum de Drop Dead Diva?
    Nas séries ficção e conhecimento se misturam fazendo-nos atentar para a realidade. Muitas vezes me identifico com alguns personagens e outras vezes penso se realmente existem pessoas tão frias quanto alguns outros.
    E nesse mar de histórias continuo aprendendo, até que minha consciência me mande voltar a vida real, lugar onde todos são protagonistas e coadjuvantes ao mesmo tempo.

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