quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O que não se vê por trás da caveira


Provavelmente o maior e mais esperado lançamento do cinema nacional ocorrido neste ano tenha sido “Tropa de Elite 2”. O filme é uma espécie “grande produção hollywoodiana”, com um gostinho tupiniquim, e com isso, vem muita pompa e expectativas, tanto na produção quanto no enredo. E acredito que a expectativa se concentre principalmente na continuação de uma boa história.

José Padilha realmente conseguiu não só reunir mais ação na vida do Capitão Nascimento, como usou o Bope, o tráfico e principalmente o poder dos políticos para mandar um alerta para a população sobre segurança pública. O que Padilha mostra através da vida do Capitão vai muito além da caveira do Bope é um retrato de um país, que como na trama é tão bem amarrado e que possui uma capacidade tão grande de se reinventar e apresentar um desfecho inacreditável.

Um espectador que vai ao cinema de forma despretensiosa provavelmente sairá do cinema vibrante, diante de um filme de ação com uma excelente produção e boa edição. Entretanto, o recado de Padilha poderá ficar em segundo plano. E os críticos e principalmente a imprensa somente reforçam essa situação.

O assunto que “Tropa de Elite 2” toca é profundo: drogas, polícia, milícias e política. Quatro elementos que em alguns pontos, ainda são tabus para serem discutidos no Brasil. Todos os elementos estão ligados e dialogam entre si, fazendo com que o crime seja um associado do poder. Não tenho encontrado em minhas leituras de jornais e revistas uma leitura sob esse aspecto da história do Capitão Nascimento. O que se vê são elogios a produção, ao elenco e a continuação da história. O debate? A ligação de criminosos e políticos? Isso fica como um detalhe do filme, situação que não é o real. Junto com Capitão Nascimento, essas questões também são protagonistas e caberia aos meios de comunicação também propor e ampliar as discussões sobre esses assuntos.

Não cabe aqui dizer está se jogando toda uma responsabilidade de gerar discussão para a imprensa. Não é uma forma de tentar vangloriar a mídia como responsável por tudo, como um quarto poder, mas de reconhecer que o papel social da mídia, que muitas vezes é esquecido. Possibilitar o “abrir dos olhos”, para mostra que se pode tocar sutilmente com um filme a ferida do sistema público de segurança. Indicar tudo isso para o público como um todo é uma forma de serviço ao Brasil.

E talvez essa tenha sido a grande “sacada” de Padilha: apontar a teia de problemas ao espectador e levar a ele um bom filme nacional. Caberia agora a imprensa perceber essa forma de falar verdades, ou melhor, se propor a mostrar essas verdades.

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