segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Novela: uma identificação brasileira

Por Lucas Felipe Jerônimo


O Brasil além de ser famoso pelo seu futebol é um país internacionalmente conhecido pela sua teledramaturgia. Com 12 telenovelas no ar, atualmente a rede de televisão aberta no Brasil disponibiliza no seu horário nobre de segunda a sábado tramas variadas.

A estrutura é a mesma: vidas que se cruzam em diversos caminhos, problemas familiares, conflitos morais e éticos. De tramas maniqueístas nas quais o mote principal é a oposição entre o bem e o mal a histórias mais humanas em que todos possuem um lado correto e certos desvios.

A dúvida é: o que desperta tanta atenção para que a novela seja um dos produtos midiáticos mais consumidos no Brasil?

O Canal Viva, do sistema fechado Globosat, estreou em maio deste ano e trouxe de volta sucessos da televisão brasileira. Entre eles o canal apresenta três novelas: Quatro por Quatro, de Carlos Lombardi; Por Amor de Manoel Carlos e Vale Tudo de Gilberto Braga.

A trama que merece destaque é Vale Tudo, de 1988, centrada em Raquel, interpretada por Regina Duarte e sua filha Maria de Fátima, papel de Glória Pires. O conturbado período de redemocratização no Brasil nos anos 80 foi cenário para esta narrativa considerada uma crônica sobre valor e ética.

Maria de Fátima foi criada pela mãe solteira Raquel e se tornou uma adulta ambiciosa. Quando o avô morre, Fátima vende a casa da mãe e foge para o Rio de Janeiro com o dinheiro. Lá apronta vários golpes para subir na vida. Enquanto a mãe, também no Rio, reconstrói a vida de forma digna, com sua força de trabalho. Nesse ínterim, Odete Roitman, famosa pelo “Quem matou?” tecia críticas durante todo o folhetim sobre como o Brasil era um país de terceiro mundo que não valia a pena.
A explicação detalhada de Vale Tudo nos leva ao contexto de importância da teledramaturgia. O retorno da trama é sucesso de audiência no Canal Viva, tanto entre os mais velhos que matam saudade revendo cenas, como entre os jovens que não eram nascidos e têm na reprise uma chance de conhecer um pouco do Brasil dos anos 80. A empolgação é grande com o descobrimento de termos, gírias e coisas que já não existem mais como o Telex, um sistema internacional de comunicações escritas, que na história era operado por Ivan, Antônio Fagundes.

A telenovela costura tramas e une o Brasil. Quando vemos uma heroína batalhadora reconhecemos ali uma tia, ao ver um caso difícil de alcoolismo nos recordamos de um parente que passou pelos mesmos sofrimentos. Já os núcleos jovens trazem memórias de tempos da nossa adolescência, quando ainda não sabíamos que o drama da vida real pode ser bem maior. Nesse sentido, a identificação pode ser apontada como um dos propósitos de tamanha audiência de um produto que é genuinamente brasileiro.

2 comentários:

  1. A telenovela é uma narrativa composta por vários plots (núcleos), em que há muitos personagens, tramas variadas e um enredo longo. Por isso, cativa tantas pessoas. Na novela se encontra o drama, a comédia, o suspense, o romance, enfim, é uma miscelânea de histórias abertas - pois a opinião do público determina o desenrolar da narrativa - que se torna uma fórmula quase infalível para promover entretenimento e gerar audiência.

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  2. É incrível como as telenovelas, quase sempre com o mesmo enredo (casal apaixonado atormentado pelo vilão que é apaixonado por um dos dois), chamam tanto a atenção dos brasileiros. Algumas vezes isso se deve ao fato de nos identificarmos com personagens e situações. Outras vezes o simples fatos de elas serem transmitidas em certos horários as transforma em campeãs de audiência.
    O fato é que as telenovelas já se tornaram marca da cultura televisiva brasileira, mostrando histórias que necessitamos acompanhar para ver aonde vão dar. Muitas vezes o ponto de chegada já deduzimos mas persistimos com o desejo de se saber o que acontece durante o percurso.

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